Já falei aqui sobre o tempo que eu fico sem escrever nada. Agora é hora de pensar no tempo que levo para escrever uma história, que vem aumentando nos últimos anos, basicamente por dois motivos:
1) as histórias estão se tornando mais consistentes e mais detalhadas e, portanto, mais longas. Se, no início, eu fazia um “romance” em 45 páginas, hoje preciso de pelo menos 200. Como a vida toda sempre escrevi, em média, entre 0,3 e 1,4 páginas por dia, se o número de páginas aumentou, é natural que o número de dias aumente também.
2) Minha disponibilidade de horários livres para a atividade diminuiu. Durante a vida de estudante – solteira – morando na casa dos pais, eu tinha bastante tampo para me dedicar a escrever. Mas agora, nessa vida de profissional – casada – mãe, administrando ainda a vida da casa, minha disponibilidade se resume aos 30 minutos diários dentro do metrô, indo e vindo de meu emprego. Às vezes (como no momento em que escrevo este texto), aproveito os minutos entre eu acabar de jantar e minha filha acabar de jantar para, deseducadamente, escrever uma ou duas páginas, enquanto lhe faço companhia à mesa. Circunstâncias da vida. Não me queixo.
É claro que eu tenho uma tabela onde registro quanto tempo levei para escrever cada história. Infelizmente o registro não está completo porque, bem lá no início, eu não tinha o cuidado de anotar o dia em que eu escrevi a primeira letra e o dia em que eu coloquei o ponto final. De qualquer forma, é interessante ver, hoje, que eu levei 13 dias para escrever A noiva trocada; levei 42 dias para escrever O maior de todos; 2191 dias (seis anos exatos) para escrever Construir a terra, conquistar a vida; 629 dias para escrever O canhoto; e já estou a mais de 1092 dias (três anos) escrevendo De mãos dadas.
Quando eu começo a escrever, sempre tenho pressa de acabar. A história está pronta na minha cabeça, e a vontade é de vê-la logo no papel, de forma escrita.
Por compreender os motivos que me fazem passar anos com uma mesma personagem – quando eu queria resolver tudo em poucos meses – eu deixei de me angustiar com esse fator. Minha vida agora é assim e angústia e revolta não resolverão o problema. Então apenas procuro aliar o número de páginas de que preciso a todas as brechas de tempo que tenho para produzir com qualidade e rapidez.
É interessante passar anos com uma mesma personagem e, além de vê-la amadurecer, amadurecer também junto com ela e melhorar o estilo de escrita. A vida é assim: perde-se por um lado e ganha-se por outro.