Um dia, numa das minhas comunidades literárias favoritas, me irritei e meio que “subi nas tamancas”, e por isso resolvi escrever um texto sobre o assunto, mas acabei escrevendo três textos relacionados (este e mais Amadurecer o texto e Amadurecer o autor). A motivação desses textos é que tenho lido muitos textos de jovens colegas que encontro nas comunidades do Orkut e em outras comunidades e fori, que estão começando suas trajetórias agora e acabo ficando indignada com um ou outro, pois demonstram ser talentosos, com idéias interessantes, mas se apressam em mostrar textos recém-escritos, não revisados, inconsistentes e até incoerentes. Eu acabo me sentindo na obrigação de dizer “colega, sua ideia é ótima, mas o texto deixa a desejar”. O conteúdo é bom mas a forma atrapalha. É o trabalho da língua escrita – o objetivo da profissão do escritor! – que puxa o tapete da juventude. Isso acontece pela falta de hábito de escrever – sim, porque estão começando agora! São pessoas com dois ou três anos de carreira, talvez até menos! E foi essa minha indignação que me levou a refletir sobre como amadurecer um escritor e como amadurecer um texto. Como eu não sei da vida dos outros, tratei de pensar na minha vida, e em como esse processo de maturidade vem acontecendo comigo. Por gostar de números e tabelas, levantei a informação de quantas histórias eu já escrevi na vida, para ter chegado no ponto em que cheguei. Devo confessar que os números me surpreenderam, porque eu não esperava tanto. Eu já escrevi 51 histórias completas, e 12 delas tiveram uma segunda versão completa escrita; e 19 histórias ficaram incompletas, algumas com mais, outras com menos páginas. Ou seja, no total já escrevi 82 textos, sendo 63 completos, com começo, meio e fim. E eu tenho apenas 20 histórias sobreviventes, o que significa que, das 63 completas, só 32% se salva e 68% é porcaria.
É claro que não se pode generalizar, e o fato de eu escrever muitos textos ruins não significa que todo mundo escreva também. Mas acho que essas contas servem para mostrar a meus colegas com menos experiência que dificilmente alguém pode ser brilhante todo o tempo; e que encontrar defeitos em seu próprio texto não indica que você é mau escritor, ou que você está fadado ao fracasso. Ao contrário, acho louvável ter humildade de reconhecer seus erros, suas fraquezas, seus enganos – e escondê-los do mundo! Não mostro tudo o que já escrevi, apenas o que eu considero o melhor. Outra conclusão que se pode tirar é: prepare-se para descartar seus primeiros textos (ou re-escrevê-los), porque dificilmente serão os melhores.
Penso que a prova de fogo de um escritor é descartar seu primeiro texto. Quando alguém relê seu primeiro texto e o considera ruim, então há esperança de que se torne um bom escritor, pois já conseguiu um passo de amadurecimento e autocrítica. É por isso que eu sempre sugiro aos colegas: ESCREVA! Escreva sem parar, escreva tudo o que vem à cabeça. Só se aprende a escrever escrevendo. Fazer cursos, ler livros, trocar idéias com os pares pode ajudar mas é a sua intimidade com o seu texto que vai fazer você crescer.
Muito bom texto, Mônica! Eu demorei bastante para mostrar meus textos, e, quando mostrei, eles ainda eram ruins. rsrs… Mas isso foi bom, pois recebi críticas e melhorei. Acho que, se sabemos o que estamos fazendo, não precisamos mostrar nossos escritos até termos certeza de que estão, no mínimo, apresentáveis – bem revisados e com coerência. Agora, se não sabemos, precisamos de ajuda. Como você disse: é necessário estudar, ler, escrever e compartilhar experiências, incessantemente. Talvez seja esse o olhar que muitos procuram em sua ânsia por serem lidos.
Ah, vou contar quantas histórias criei, mas, com certeza, meu número será bem menor que o seu. 😉