Por cinco vezes, pessoas deram-me idéias para escrever. Deram-me já prontos personagens, ambientação, trama. Só uma eu consegui escrever – a primeira, porque a absorvi como minha, e acabei fazendo muitos acréscimos além do que estava planejado. Tanto que A nova Camelot se tornou O sonho de Richard. É uma história de 1988, que se passava no futuro, entre os anos de 1997 e 2000 – terminava na virada do milênio e isso era importante. O que era futuro virou passado, sem que eu tivesse acabado de escrever, por isso a descartei. Mas às vezes fico pensando se devia chamá-la de volta, e terminar de escrever. O problema é que faz parte dela ser no futuro, e eu dei um significado especial à virada do milênio. E a próxima virada está tão longe… não quero ir tão para o futuro assim.
As outras quatro histórias eu cheguei a recolher informação, pesquisar, inventar. Uma outra até cheguei a começar a escrever. Mas a verdade é que eram estímulos exteriores a mim, e por isso não consegui levar adiante. Outro dia reli algumas anotações que fiz sobre uma dessas – a história de Didier e sua mãe Vivianne – que me foi dada em 1993, e alguma coisa falou dentro de mim. Acho que meu inconsciente se identificou com o que eu li, e eu já comecei a inventar cenas e refazer o que eu tinha feito. Como é uma história que requer muita pesquisa, pois se passa na Europa no século XVI – e ainda por cima as personagens e a trama não são minhas – marquei-a como suspensa, para voltar a ela algum dia. Talvez seja minha próxima história, não sei. Curioso é que a pessoa que me deu esta história é a mesma que me deu A nova Camelot.
Também em 1993, duas meninas me pediram uma peça de teatro para elas representarem com os primos. Deram-me as personagens e a trama e eu comecei a escrever, mas achei que estava entrando em temas estranhos à proposta delas, então também desisti.
Em 2003, um prédio antigo desabou na Rua do Rosário, centro do Rio de Janeiro. Meus colegas de trabalho sugeriram que eu fizesse uma história com isso. Achei boa a idéia, acompanhei e copiei as notícias, inventei personagens e uma trama mas não gostei do que fiz. Então descartei sem nem escrever.
E recentemente, em 2006, meu pai me deu uma sugestão mas eu teria que “brincar” com personagens reais, sobre os quais há muitos estudos e livros escritos, e eu achei perigoso me meter a fazer ficção com gente que existiu e fatos reais. Até cheguei a pensar nela, mas é difícil inventar e ao mesmo tempo ser fiel ao que dizem os livros. Então desisti.
Foi analisando esses fatos – e outras questões também, é claro – que cheguei à conclusão de que meu processo é de fato inconsciente, e que eu não consigo escrever por encomenda.