Analisando o conjunto das minhas histórias, percebi que tenho grupos de personagens com uma mesma característica. Não que a personagem não tenha outras características, mas em alguns casos há uma mais marcante.
Tenho, por exemplo, personagens tipicamente vingadoras: Ailan, Linart, Rodrigo. São personagens que, por grande parte ou toda a história, têm por objetivo de vida a vingança. É interessante que Linart quer vingar a morte de seu irmão Rodreve, mas Ailan e Rodrigo querem se vingar de violências que sofreram, depois da qual trocaram de nome. Assim, Ailan quer vingar a violência que sofreu quando era Rosala e Rodrigo quer vingar o que sofreu quando era Mário. Como os três são os protagonistas, tenho que confessar que facilito um pouco a vida deles, permitindo que encontrem de novo as pessoas de quem querem se vingar. Se eles conseguem a vingança, não posso dizer, mas eu os ponho frente a frente com os inimigos, para o acerto de contas que, por coincidência, nos três casos, termina com pelo menos um morto. Há vingança e desejo de vingança em outras histórias também, mas nada que caracterize as personagens como nesses três casos.
A outra classe típica é a de personagens criminosas. Chamo-as assim porque erraram conscientemente. Sabiam que o que faziam era errado e fizeram assim mesmo. Também são três: Gustave, Ninette, Roberto. Essas três se destacam, não porque minhas outras personagens não cometam erros, mas porque o fizeram por vontade, de caso pensado. Tenho outras personagens que cometem crimes, mas são criminosos circunstanciais, e não calculados e intencionais como esses três. É bem verdade que a vingança também não é uma atitude que julgo correta mas, no caso dos três vingadores, eu considero que eles têm razão, e até o direito de se vingarem – tanto que escrevi as histórias, para dar a eles oportunidade de se vingarem. Então, embora os vingadores também sejam criminosos – pois a vingança que eles querem executar é crime e eles a buscam conscientemente, planejadamente – eles têm a minha indulgência, pois estão agindo contra culpados, não contra inocentes (embora ninguém seja de fato inocente, mas isso é assunto para outro texto). Criminosos, porém, não têm meu perdão, nem direito a um final feliz. Mesmo quando eles acreditam que ficaram impunes, na verdade perderam o que tinham, inclusive e especialmente a dignidade.
Há também três personagens cuja motivação é a luta pelo poder: Gustave, Ninette, Legrant. Por estarem em duas categorias, creio que seja fácil concluir que Gustave e Ninette não são muito louváveis em seus métodos para alcançar o poder. Legrant não precisa conquistar poder, pois já o tem. Seu desafio é mantê-lo. A partir dele, desenvolvi duas teorias: 1) “o que é não precisa ser provado”. Se ele a todo momento precisa provar que é poderoso é porque não o é de fato e apenas precisa manter a aparência e a ilusão na cabeça de todos, inclusive dele mesmo. 2) “manda mais o que mais se esconde”. Nem sempre o que parece poderoso é de fato o que controla tudo. Às vezes, estar à sombra dá à pessoa uma liberdade de ação que não teria se estivesse à frente, na luz. Daí a dinâmica de poder entre Curt e Karl, que alternam posições de luz e sombra e, consequentemente, de maior ou menor poder.
Cabe aqui a observação de que cada categoria tem três representantes por puro acaso, porque a classificação é bem posterior à caracterização e à escrita. A análise consciente vem sempre depois da criação inconsciente. Além disso, há outras personagens que se vingam, há outras personagens que cometem crimes, há outras personagens subversivas e ambiciosas. Aqui estou destacando apenas as mais características.
E finalmente há a classe de personagens subversivas. São mulheres, na maioria, desde Inês, que desobedece Fernão no século XVI e cozinha o que gosta de comer; até Marie, que busca a verdade, julga Gustave e pretende puni-lo, passando por Ayraci, Ester, Rosala, Caty, e quase todas as outras. Mas a personagem subversiva por excelência é Maurits (mais do que seu ancestral Maurice), que ousou desejar uma utopia e fazer seguidores. Mesmo sem memória e vivendo num mundo que não era o seu, o desejo permanecia vivo nele, influenciando suas ações. É uma subversão de mentalidade, de cunho social mas quase religiosa. A vida dele foi a serviço da subversão, que norteou suas escolhas e seu destino. Foi por causa da subversão que seu nome entrou para a História da Civilização (ops, esqueci que a História não registra as vidas e os feitos das minhas personagens, por mais reais que elas sejam).
Dá até pena listar essas categorias e pensar que destino todos eles tiveram: os vingadores, os criminosos, os ambiciosos, os subversivos, pois eu não acredito em finais felizes.
Legal o seu blog, eu vou segui-lo!
Abraços!
Marcelo Vinicius