Minhas personagens em geral têm dificuldade de inserção social, e às vezes chegam a embates violentos contra instituições e práticas da sociedade. Mesmo quando se submetem às imposições, na verdade estão procurando meios de burlar ou vencer as instituições que cercearam o que se considerava um direito. Essa luta entre o que a personagem acredita que seja seu direito e o que a sociedade lhe permite é uma constante nas minhas histórias. Cabe lembrar que a família também é uma instituição social e, portanto, pode ser contra ela que a personagem se põe. Quando o desejo pessoal da personagem esbarra em algum preceito social, cria-se na personagem uma revolta e, às vezes, desejo de vingança, que ela busca resolver por meios pacíficos, com superação da dificuldade, mas sem medo de chegar a atitudes extremas. Algumas personagens perdem a noção do limite moral e podem ser bastante violentas.
Mas por outro lado, como o que a personagem quer é justamente conseguir inserir-se na sociedade, ela defende as instituições com a mesma fúria com que se contrapõe a elas. A vingança, nas minhas histórias, é quase sempre contra quem faz algo contra a família da personagem, pois qualquer desestruturação na família desestrutura a psique da personagem a e leva a agir, de todas as formas que considera possíveis, desde uma simples superação pessoal, até a tentativa de assassinato do agente desestruturador.
É interessante notar esse conflito que muitas vezes acomete as personagens: ao mesmo tempo em que se revoltam contra uma sociedade que não aceita seus desejos e necessidades pessoais, elas defendem essa sociedade, que tem por dever submeter todos os sujeitos às mesmas normas, indiferente aos interesses pessoais.
Tem muito a ver com a época também, digo, da história. Esse desejo de libertação vem de muito tempo atrás, e hoje está manifesto especialmente na rebeldia dos jovens.
Como estou escrevendo para adolescentes e jovens, identifico alguns traços semelhantes em meus personagens, e isso independe da imagem deles. Uma EMO se mostra super cabeça, bastante equilibrada, enquanto a recatada patricinha tenta burlar regrinhas impostas pela família. Assim, em certos momentos, cada uma delas pode tanto defender, quanto atacar a instituição "família".
Essa é mesmo uma via de mão dupla.